A obediência literal às ordens que Cristo nos impõe é algo que, muitas vezes, nos esquivamos de fazer. Sabemos exatamente do que muitas dessas ordens tratam e como proceder para cumpri-las, mas decidimos interpretá-las ao nosso modo e gosto, e por isso nos dizemos obedientes a Cristo, quando, na verdade, cumprimos apenas com os ritos de uma interpretação contraditória dos Seus ordenamentos, que nós mesmos fazemos, ao entender as Escrituras Sagradas segundo o que nos é conveniente acreditar.
Por exemplo, vamos usar aqui uma oportuna colocação que Dietrich Bonhoeffer registra no capítulo 3 de seu livro “Discipulado”, que trata do seguinte: Se, na atualidade, Jesus falasse com um de nós como falou com o jovem rico, conforme descrevem as Escrituras em Mateus 19.16-22, certamente argumentaríamos que “você não tem que, de fato, cumprir essa ordem, mas, sim, não deve ostentar os bens que possui. Pode até ficar com eles, mas viva como se não os possuísse. Não deixe que seu coração se apegue a ele”. Ou, ainda, se esse mesmo Jesus viesse a nós como veio a Pedro, como se confere em Lucas 5.1-11, chamando-o para segui-Lo como discípulo, “nós, porém, diríamos: Embora o chamado de Jesus sem dúvida deva ser levado a sério, a verdadeira obediência consiste justamente em não abandonar a profissão, ficar junto à família e servir a Jesus onde estou, em verdadeira
liberdade interior”.
Enfim, para cada chamado radical do Senhor, sempre procuraríamos uma argumentação “plausível” para justificarmos a nossa meia obediência – ou desobediência inteira mesmo. São posturas como essa que têm abrido brechas para a implantação da cultura do “achismo” na vida de muitos cristãos. É lamentável como o uso de
argumentações similares às citadas por Bonhoeffer tem sido tão recorrente no meio evangélico. São coisas tão estarrecedoras que ouvimos no dia-a-dia, que chega a dar ânsia: mercenários em seus palcos, dizendo que salvação se compra com dinheiro; jovens que se dizem libertos da lei, defendendo uma graça barata; seitas pregando como normal aquilo que Cristo abomina; pessoas querendo que Jesus Se encaixe em seu mundo, em vez de se disporem a se encaixar no perfil Dele; e as aberrações não param por aí, entretanto é preciso repudiá-las.
Como forma de repúdio, é oportuno alertar àqueles que por tudo querem justificar a sua desobediência com argumentações tacanhas, com o que já advertia Tiago Arrais em sua canção “Não Fale”: “Não fale que O
conhece, se O esquece em cada esquina. Não fale que O encontra nas suas ondas de fé e não na Palavra”. Pois, segundo a canção dele, o “que falta hoje é fé na Palavra, que muda quem eu sou, não deixa nada. Amando o que é de Deus, deixando o mal que tanto amei. Pois, se tenho a Cristo, tenho a verdade, sim. No assim diz o Senhor, e não no eu acho que”.
Por fim, evocando o que aqui já foi discorrido sobre a passagem do jovem rico, vale considerar o que diz Bonhoeffer: “Quando Jesus exigiu do jovem rico que se tornasse voluntariamente pobre, este se viu diante da escolha entre obedecer ou não obedecer. Não havia alternativa”. E, parafraseando com a última afirmativa da
citação, não havia meia alternativa, Jesus não dava margem para segundas interpretações da Sua ordenança. Era cumprir o que Ele disse e pronto. O que passava disso era mera desobediência.
Sejamos, pois, obedientes a Deus.